poetenladen    poet    web

●  Sächsische AutobiographieEine Serie von
Gerhard Zwerenz

●  Lyrik-KonferenzDieter M. Gräf und
Alessandro De Francesco

●  UmkreisungenJan Kuhlbrodt und
Jürgen Brôcan (Hg.)

●  Stelen – lyrische GedenksteineHerausgegeben
von Hans Thill

●  Americana – Lyrik aus den USAHrsg. von Annette Kühn
& Christian Lux

●  ZeitschriftenleseMichael Braun und
Michael Buselmeier

●  SitemapÜberblick über
alle Seiten

●  Buchladenpoetenladen Bücher
Magazin poet ordern

●  ForumForum

●  poetenladen et ceteraBeitrag in der Presse (wechselnd)

 

Amélia Dalomba
  Pitangas – Literatur aus Angola



Espigas do Sahel

Espigas
espigas brotam do Sahel
pioneiras da liberdade
a caminhar sem cautela
pela floresta carregada de espinhos

Pessoas
pessoas
cruzam o meu caminho
penetram lentas e vagarosas
como
térmitas
na sala de interrogatórios
descubro o travo da
traição


Prefiro as hienas
e os lobos
que uivam constantes
todos sabem
donde e onde estão

Do ventre do bosque
ainda que faça silêncio
imaginam meu pensamento
ainda que cerre os dentes
e digo não penso
há gente que diz: mente

Não falo
não penso
oh gente da terra quantas vezes
ofereceis
malavu sem provar

De: Espigas do Sahel. Luanda: Kilombelombe, 2003: 55-56.







Amor em carta aberta
relembrando Fernando Pessoa

Meu amor
venho em carta aberta, dizer o seguinte:
de ti vi nascer a paz!
Crescer árvores nos baldios das minhas solidões onde
pássaros chilreiam e anunciam o sol e a chuva ao deserto.
Tua chegada trouxe o projecto de uma casa com dois cómodos
apinhados de livros, um pomar de rica sombra e nossos netos
de todas as cores, a treparem pelas nossas bengalas e cadeiras
de verga balanceando com seus choros e fraldas molhadas;
De ti recebi o amor, verdadeiro de mais, para se esbanjar
pela cercania da mágoas. Hoje enquanto o céu caía sobre
mim, da chuva das tuas lágrimas compreendi a imperfeição
da minha alma! E o que me levou a desentender o percurso
de nós. Vejo que o abismo pode estar onde menos se espera,
até, imagina, na esquina desta entrega que nos parecia ser
capaz de superar todas as crateras e enfrentar as trevas ...
quanta crueldade!
Enfim, este adiamento ao nosso reencontro e aos nossos
corações, talvez traga maior maturidade e aceitação da vida
com a serenidade das coisas simples:

Somente!



De: Aos teus pés, quanto baloiça o vento. São Paulo: Zian Editora, 2006: 45.






Nsinga – o mar, no signo do laço


I.

Chegava a cada dois anos vestido de branco, como um príncipe dos muitos livros e cadernos que trazia, estes últimos que tanto jeito faziam à mamã para embrulhar ginguba e micates nas suas folhas arrancadas sempre do meio, para segundo ela, “o caderno não chorar".
Eu gostava de ver o tio chegar!
A miudagem toda em volta dele, os adultos ajudando a transportar as bicuatas . Era uma festa.
A casa ficava cheia de embarcadiços que andavam de porto em porto e contavam estórias, dando presentes.
O que eu mais gostava era quando o tio, com o olhar sério, perguntava ao meu pai: “Mano, como vão os meninos na escola"?, acariciando-nos com o olhar, como se fôssemos o único propósito das suas canseiras. Ele mandava sempre o dinheiro para os nossos estudos; éramos dos poucos meninos, no nosso bairro pobre, que estudávamos sem isenção de propinas e andávamos calçados. O tio cuidava para que nada nos faltasse. Éramos sete meninas e dois rapazes.
Não sei porque razão não tinha filhos, mas casara-se, diziam os mais velhos, no Brasil com uma linda senhora de cabelos tão negros e compridos que suas trancas pareciam duas longas lianas floridas em cada lado do rosto. Eu cheguei a sonhar com ela, mas aparecia sempre em sonhos com o rabo de peixe, como uma sereia pelo que não contava para ninguém. Como é que afinal, a mulher do tio habitava misteriosamente as águas salgadas, do outro lado do bairro onde morávamos?

II

Nós vivíamos entre o rio e o mar. A mae proibianos de tomar banho nas águas salgadas da praia, porque, dizia perigosas demais para as crianças pequenas; mas Futi adorava tanto aquelas águas que, quando entrava o cheiro da maresia pelas persianas da nossa linda casa de madeira à beira da estrada grande, onde passavam os camiões carregados de toros de madeira, ela deixava soltar num suspiro: “Lando, um dia vou mesmo tomar banho no mar ..." Sabíamos, ela e eu, ser isso precisamente o que nunca deveria fazer, segundo nossos pais, até atingir a idade de entrar no tchikumbi , ao que eu advertia: “se voltas a dizer isso, vou queixar à mama". Ela, com um sorriso estranho nos lábios, sempre resmungava: “humm, queixinhas, estava só a brincar" ...
Passara-se, pelo menos, mais de um ano desde a última vinda do tio e a nossa vida voltara a monotonia de sempre, quando vozes estridentes se fizeram ouvir:
“Futi se afogou socorro, socorro; Futi se afogou ..."
Suas coleguinhas, ainda sujas de areia da praia e batas molhadas, traziam os pertences de minha irmã querida, de apenas 7 anos: a pasta da escola, a bata e um par de sandálias castanhas muito usadas, com a marca de seus dedos bem marcados".


De: Nsinga – o mar, no signo do laço. Luanda: Mayamba Editora, 2011.

    13.02.2013



 
 

    Amélia Dalomba
       Einleitung
    
Ineke Phaf-Rheinberger
  01   Agostinho Neto
     Sim em qualquer poema
     Ja in jedem Gedicht
  02   Zetho Cunha Gonçalves
     O inferno e a morte ...
     In der Hand von Hölle und Tod
  03   Sónia Gomes
     A Filha do General
     Die Tochter des Generals
  04   José Luís Mendonça
     O resto é poesia
     Der Rest ist Poesie
      António Gonçalves
     Adobe Vermelho da Terra
     Roter Lehm der Erde
  05   Tazuary Nkeita
     O último segredo
     Das letzte Geheimnis
  06   Carmo Neto
     Ah! Jeremias
     Ach! Jeremias
  07   Décio B. Mateus
     O Candongueiro
     Der Candongueiro
  08   Amélia Dalomba
     Espigas do Sahel
     Ähren des Sahel
  09   Roderick Nehone
     O Catador de Bufunfa
     Hinter der Kohle her
       Fortsetzung
    Monatlich weitere Autoren